Saúde


:.: Voltei. Finalmente. Não que tenha tirado férias longas, na verdade voltei faz tempo, mas alguém deveria avisar que, se essa história de blog vicia, por outro lado dá uma preguiiiça quando você fica uns dias sem escrever….

:.: Não que a gente não continue se atualizando. Até por demanda profissional, não dá pra descuidar. O problema é converter isso em textos. Melhor: em posts. Mas, vamos lá. De leve. Vou pegar o gancho de uma coluna que li agora no G1, o portal da Globo. Ou do Globo.

:.: Marília Juste se convence que “a ignorância é uma benção; o Google é uma uma maldição!” Tudo porque resolveu dar uma olhadinha no Google antes de fazer uma cirurgia. E eu fico me perguntando:

– dá pra abrir mão de usar os recursos de internet pra fazer descobertas sobre saúde?
– quem está errado, o Google ao disponibilizar informações ou a Marília, ao não saber fazer uma seleção?
– o que é melhor, saber os riscos que se corre, ou não ter noção se o procedimento do médico é o mais indicado?
– mas… é possível realmente saber se o procedimento do médico está correto?  E se não é, pra que pesquisar?

:.: Já se criaram diversas ferramentas para atestar que um site é confiável. Os critérios geralmente estão ligados ao volume de visitas, ou à fonte produtora de conteúdo (um centro de estudos ligado a uma universidade teoricamente é mais confiável que um sujeito que resolveu, por conta própria, disponibilizar informações). Isso nem sempre se reflete nos resultados das pesquisas (o fato de estar em primeiro lugar na lista de respostas não atesta a confiabilidade daquela página). Alguns mecanismos de busca – como o Kratia, que comentei aqui, permitem que os usuários incluam comentários, ou votem na qualidade das informações, mas ainda assim, você confia realmente nos comentários de um monte de gente desconhecida?

:.: Mais importante que saber se uma fonte é confiável é avaliar se a informação disponibilizada está realmente adequada, considerando o perfil do usuário e a situação em que se encontra. No caso de dados sobre saúde, seria o caso de saber quanta informação é boa informação, ou seja, até que ponto deve ir o conhecimento repassado, de forma que isso não prejudique o paciente, ao contrário, seja importante no processo de recuperação. Mas isso, imagino, ainda está longe de se alcançar. Fica pra era da inteligência artificial…

100_googledoc1.jpg:.: Uma palestra do vice-presidente do Google pode indicar como será, em algum tempo, o uso da internet para acessar informações ligadas a saúde. Adam Bosworth, particularmente tocado por acompanhar a evolução do câncer da própria mãe durante os últimos quatro anos, esteve nesta semana na conferência “Connecting Americans to Their Health Care“, sobre como o uso da tecnologia está transformando os cuidados com a saúde.

:.: A partir da experiência com a mãe, Bosworth se fez três perguntas: o que saiu errado (os médicos demoraram muito para identificar uma doença com sintomas clássicos), quem deveria realmente ter tratado dela (não foi nada fácil descobrir os médicos certos, que teriam cobertura do plano de saúde e que concordassem em aceitar o caso) e, por fim, como seria possível coordenar melhor o tratamento de uma doença crônica que envolve médicos e enfermeiros, de forma que pudessem compartilhar melhor as informações?

:.: Ele acredita que o Google tem sido eficaz nas respostas que apresenta diante das milhares de consultas diárias sobre doenças e tratamentos médicos, e tem melhorado a cada dia. Para melhor aproveitar o conhecimento de médicos competentes sobre fontes de informação fidedignas, o VP do Google sugere, por exemplo, o Google Co-op, que o Busca na Web detalhará no futuro, mas que é basicamente um conjunto de ferramentas que permitem, entre outras coisas, criar mecanismos de busca personalizados, garantindo melhores resultados a partir de indicações.

:.: Mas a proposta que mais chamou a atenção, e que certamente envolve boa dose de polêmica, é a da criação de um espaço virtual em que todos os dados de uma pessoa doente estariam armazenados, e que permitisse a troca de informações entre os profissionais envolvidos no tratamento. Uma espécie de prontuário digital, que o paciente disponibilizaria em uma home page com acesso restrito e, para isso, receberia, do Google, um endereço na web (uma URL).
Bosworth acha isso tão possível quanto oferecer armazenamento grátis de fotos para qualquer um, até 5 GB, como fazem alguns sites, ou permitir ligações telefônicas gratuitas ou mensagens para qualquer um no mundo, como fazem outros.

“O que precisamos no campo da saúde não é de paliativos. Não precisamos de medidas que meramente ajudem os médicos em seus procedimentos ou de levar mais algumas imagens à sala de cirurgia. Precisamos é de deixar o controle nas mãos dos doentes e de seus cuidadores, para sutilmente sugerir que aqueles que os tratam, medicam, examinam,  ou diagnosticam estão desatualizados se não entregam esta informação instanteneamente ao paciente. Uma vez que isso aconteça, nós veremos sistemas que realmente embasem decisões, e especialistas e profissionais de saúde ajudando os pacientes a determinar muito mais rapidamente o que realmente está errado com eles. Uma vez que isso aconteça, veremos pacientes conseguindo mais facilmente o melhor suporte, aconselhamento e conforto na hora em que mais precisam.”

:.: A proposta precisa ser melhor detalhada, e foi apresentada, fique claro, numa conferência que discutiu recursos tecnológicos que já estão em uso nos Estados Unidos. A novidade do que foi dito pelo VP do Google, no que ele chamou de “health URL”, é a possibilidade de que diversos profissionais de saúde, de instituições diferentes e até de países diferentes, com expressa autorização do paciente, possam trocar informações, revisar anotações uns dos outros, analisar os registros médicos e sugerir procedimentos. Cada consulta, ou remédio adotado, ou conduta sugerida, ficaria registrada no mesmo local. Numa primeira abordagem, isso aconteceria apenas durante determinado tratamento.

:.: Agora, imagine isso em escala muito maior (embora não seja isso que o Google esteja propondo), não apenas com pessoas doentes, mas simplesmente disponível para qualquer um. Uma criança que nasce, por exemplo, tem registrados todos os seus dados, aos quais se somariam as diversas anotações dos pediatras, e no futuro, de todos os médicos, ou terapeutas, ou qualquer profissional de saúde. Estariam ali todos os seus exames. Todos os seus tratamentos dentários. As vezes em que teve uma gripe, ou febre, ou alergias. Tudo facilmente acessível, com poderosas ferramentas de busca, em se tratando de Google. Imagine as possibilidades que isso abriria na relação médico-paciente e na busca por tratamentos personalizados, mais de acordo com as necessidades e características de cada pessoa. Mas, em seguida, imagine também as possibilidades infinitas de fraudes, roubo de informações, riscos envolvidos. Empresas que não contratam profissionais que tenham determinados registros na sua ficha de saúde, por exemplo. 

:.: Sim, porque a questão central aqui parece ser: estou disposto a abrir mão de minha privacidade em função de ter mais recursos de informação sobre a minha saúde? Ainda que digam que o sistema seria confiável, você estaria tranquilo em relação a possíveis invasões? Por outro lado, não seria realmente uma maravilha, no caso de uma doença como o câncer, que todos os profissionais pudessem interagir em busca do melhor caminho? E mais: não é realmente um alento pensar que finalmente os próprios pacientes poderiam ter nas mãos o poder de optar pelo melhor caminho? Que opção você está disposto a fazer?

 (Leia aqui a íntegra da palestra, no original em inglês e no formato pdf)